Lido: Janeiro 2020
Rating: 5/5
“All the Light We Cannot See”, de Anthony Doerr passa-se durante a segunda Guerra Mundial e foca-se em duas jovens personagens: Marie e Werner.

Marie é uma jovem francesa com uma história trágica, tendo ficado orfã de mãe muito cedo. Com apenas oito anos, um problema de saúde leva-a a perder a visão. O seu pai, chaveiro do Museu de História Natural da cidade, faz tudo o que pode para ajudar Marie a adaptar-se à sua nova realidade, preparando-a para viver no mundo de forma independente.
In a corner of the city, inside a tall, narrow house at Number 4 rue Vauborel, on the sixth and highest floor, a sightless sixteen year old named Marie-Laure LeBlanc kneels over a low table covered entirely with a model.
Werner é um jovem órfão alemão que cresceu num orfanato com a irmã. Muito astuto e inteligente desde criança, encontra um rádio estragado que consegue reparar, iniciando assim a sua “carreira” improvisada e mecânico de rádios da cidade. As suas capacidades chamam a atenção das autoridades que o recrutam para estudar num colégio privado destinado a formar a juventude Hitleriana, com o objetivo de formar soldados para a guerra.
Five streets to the north, a white-haired eighteen-year-old German private named Werner Pfenning wakes to a faint staccato hum.
As nossas personagens surgem em lados opostos da História – Marie vê-se obrigada a abandonar a cidade em que vive quando os alemães começam a bombardeá-la, e Werner faz parte das forças militares que invadem França e lutam pelo exército germânico.
History is whatever the victors say it is. That’s the lesson. whoever wins, that’s who decides the history.
Construída com analepses e prolepses temporais e viagens no espaço, esta história apresenta diversas personagens secundárias e acessórias que contribuem para a sua misticidade. A narrativa de Anthony Doerr é fluída e extremamente bem construída, e cada frase deixa-nos com vontade de ler a frase seguinte.
The sea seems big enough to contain everything anyone could ever feel.
Eu adorei este livro. Depois de ter lido “The Book Thief” há uns anos, receei nunca mais encontrar um livro da segunda guerra mundial que me fizesse sentir da mesma forma – até ler “All the Light We Cannot See”. O retrato de guerra é feito de forma quase dissimulada, já que nenhuma das nossas personagens está em contacto directo com as figuras “mais relevantes” nem tem um papel activo no conflito, o que nos permite ter uma ideia de como a guerra é vivida pelas populações e pessoas comuns.
Senti frequentemente que este era um livro antiguerra: tal nunca nos é dito diretamente, mas a forma como o conflito é descrito, e as reflexões e vivências que as nossas personagens sofrem, levam-nos a esquecer que país é que está a “ganhar” ou a “perder” ou quem é que tem a “razão”. Chegamos à inevitável conclusão de que ninguém ganha numa guerra e de que nada justifica as atrocidades e violações dos Direitos Humanos cometidas.
Everyone remembers the last war, and no one is mad enough to go through that again.
Não quero revelar demasiado do enredo – acho que o livro merece ser mantido em segredo, e que cada leitor tem direito à fantástica viagem que é a sua leitura. Fica o aviso: é um livro para chorar muito, mas também rir, refletir e, acima de tudo, entreter. Entrou automaticamente para a minha lista de livros favoritos do ano (apesar de ter sido apenas o segundo que li!), e talvez até da vida toda.
Science is made up of mistakes, but they are mistakes which are useful to make, because they lead little by little to the truth.
O livro tem também bastantes cientistas e engenheiros, cuja paixão pelo que fazem é descrita de uma forma deliciosa. Como bioquímica, encontrei várias passagens que me relembraram o porquê de gostar do que faço, algo que contribuiu para gostar ainda mais da história, das personagens e, consequentemente, do autor.
Recomendo de forma generalizada esta obra, independentemente de idade ou nível de interesse por história ou temas de guerra do leitor, acredito que este livro tem qualquer coisa para toda a gente.