Lido: Fev 2020
Rating: 4/5
“Slaughterhouse-5”, de Kurt Vonnegut, é geralmente classificado como um “clássico antiguerra”. Publicado em 1969, o livro passa-se durante a Segunda Guerra Mundial, focando-se principalmente no bombardeamento de Dresden, vivido pelo próprio autor. É um trabalho de ficção sobre factos reais que Kurt testemunhou. Apesar da ligação pessoal de Vonnegut à história, apenas o primeiro e último capítulo são contados na primeira pessoa.
O livro inicia-se com uma confissão:
All this happened, more or less. The war parts, anyway, are pretty much true.
A personagem principal, Billy Pilgrim, é um americano enviado para a guerra com apenas 20 anos, durante a qual vive (e sobrevive) vários eventos traumáticos. Depois do fim da guerra, de volta à sua terra, é internado num hospital psiquiátrico por ter dificuldades em adaptar-se à vida “normal”. Eventualmente, é considerado “curado”, casa-se e torna-se num optometrista famoso.
Na sua vida pós-guerra, Billy descobre que consegue viajar no tempo e visitar acontecimentos do seu passado e futuro – consegue ficar “unstuck in time”, como o próprio descreve. Para além disso, a certa altura o nosso infeliz protagonista é raptado por um grupo de Aliens que o levam para o seu planeta e o expõem num zoo cheio de seres humanos. Estes momentos são um reflexo do stress pós-traumático de que Billy sofre como consequência do que viveu na guerra, mas são-nos contados como sendo eventos reais.
Well, here we are, Mr. Pilgrim, trapped in the amber of this moment. There is no why.
Eu gostei muito deste livro, apesar de o ter achado algo confuso. Quando acabei de o ler senti que não o tinha compreendido da forma que gosto de perceber os livros, o que me levou a fazer bastante pesquisa sobre o autor e a história em si. No entanto, ao contrário do que seria de esperar, todo este trabalho apenas contribuiu para me fazer gostar ainda mais da história, das personagens, da escrita e, consquentemente, do autor. É um livro difícil e pesado, sim. Mas é também um livro transformador.
What he meant, of course, was that there would always be wars, and that they were as easy to stop as glaciers. I believe in that, too.
A narrativa é bem construída e extremamente inteligente, e o autor é capaz de descrever eventos e sofrimentos horríveis de forma semi-poética sem nunca diminuir o quão nefasta toda a situação foi. É decididamente um livro que hei de reler várias vezes ao longo da minha vida e que recomendo a qualquer pessoa que tenha interesse por livros sobre a guerra.
People aren’t supposed to look back. I’m certainly not going to do it anymore.