“A Little Life”, publicado em 2015, é conhecido como um dos livros mais devastadores e cruéis publicados nos últimos anos. Entrou na lista de para ler em 2018, e comprei-o em 2020, em segunda mão, depois de ter sido recomendado pela Rita da Nova no podcast Ponto Final Parágrafo, que adoro. Mas só em setembro de 2021 consegui pegar nele. Faltava coragem. Agora que o li estou feliz por ter sido assim – em 2018 não estava de todo preparada para esta narrativa. É um livro difícil de avaliar e recomendar – por um lado, é indubitavelmente brilhante. Está extremamente bem escrito, o desenvolvimento das personagens é subtil e envolvente e realista, a narrativa e a divisão da história faz sentido e é fluída. É um livro despido de pretensiosismos, que não procura protagonismo, que existe em plenitude. Mas é também um livro dificílimo de ler, com eventos trágicos e traumáticos, e que nos deixa devastados e em lágrimas diversas vezes. Não posso dizer que toda a gente deveria ler este livro, mas sei que eu o irei reler, e que as personagens e eventos que nele vivem ficarão comigo para sempre.
O teor devastador de “A Little Life” é absolutamente propositado. Num artigo publicado em 2015 na Vulture, intitulado “How I wrote my novel: Hanya Yanagihara’s A Little Life”, a autora revela o propósito de uma narrativa que começa aparentemente saudável e inocente, e termina de forma doente, trágica e negra. Ainda assim, a nuvem melancólica que pauta esta história persegue-nos do início ao fim, variando nos seus tons de cinzento, mas raros são os momentos em que se deixa atravessar pelo sol.
There had been periods in his twenties when he would look at his friends and feel such a pure, deep contentment that he would wish the world around them would simply cease, that none of them would have to move from that moment, when everything was in equilibrium and his affection for them was perfect
Este livro segue quatro amigos ao longo da sua vida em Nova York, desde o início da faculdade até serem adultos, pautado com analepses e prolepses, narradores na primeira e terceira pessoa, eventos testemunhados por diversas personagens primárias e secundárias. Hanya descreve este livro como um testemunho da amizade masculina, das relações entre estes quatro homens, as suas famílias, aventuras românticas e restantes amizades, e apesar de este foco no masculino ser evidente (as personagens femininas são escassas e normalmente mais transparentes), atrevo-me a dizer que este é, acima de tudo, um livro sobre a natureza humana, no seu melhor e no seu pior. Por vezes parece que as personagens ou são os piores vilões imaginários ou tão boas que nos emocionam com o seu altruísmo.
“Has anyone ever told you that sometimes you just need to accept things, Jude?”, he finally asked.
Acho que desde a adolescência que não chorava e sofria tanto com um livro, e não me lembro nunca de ter sentido uma vontade tão grande de ser violenta com um livro. Confesso que tive de me controlar para não o atirar em certos momentos, e acabei por escrever muito nas margens e no meu Book Journal nos dias que se seguiram a terminar o livro.
Acima de tudo, “A Little Life” é um grande livro sobre uma série de pequenas mas preenchidas vidas – será certamente um dos livros da minha vida, e gostaria muito de ver uma adaptação da narrativa aos palcos (como já aconteceu), ou em série/filme. Fiquei curiosa com os restantes livros da autora, mas claramente preciso de ler uma série de coisas felizes e quentinhas antes de lhe dar nova oportunidade de me partir o coração.
Um diário visual da minha experiência a ler “A Little Life”: