O mês de fevereiro, naturalmente mais curto e caótico, trouxe-me leituras muito polarizadas. Os primeiros três livros que li este mês arrebataram umas indiscutíveis 5 estrelas (em 5!), e prometiam um mês de boas leituras. Ainda por cima foram três livros muito diferentes – uma memoir, uma comédia romântica e um ficção literária.
Infelizmente, os últimos dois livros que li destoaram, tendo-me desiludido bastante. Li pela primeira vez um Murakami de que não gostei, e ainda não ultrapassei o desastre.
Algumas métricas: 5 livros lidos, com um total cumulativo de 1538 páginas, resultanto numa média de 308 páginas pro livro. A classificação média (de 0 a 5) foi de 4, e li dois livros em formato físico e três em e-book.
Mas vá, vamos começar pelas coisas boas e deixar as más (ou menos boas) para o fim. Aqui ficam as minhas leituras de fevereiro de 2022:
“I am malala”, malala yousafzai

“Education is education. We should learn everything and then choose which path to follow” (…) “Education is neither Eastern nor Western, it is human”
“Eu, Malala”, editado em Portugal pela Editorial Presença, conta-nos, na primeira pessoa, a história da “rapariga que lutou pela educação e foi atacada pelos Taliban”. Mas mais do que isso, conta-nos a história de um povo, e de todo o contexto geopolítico que levou o Afeganistão e a Palestina ao regime Taliban em que os conhecemos. O tiro dos Taliban não conferiu nenhuma importância ou legitimidade à luta de Malala – o seu espírito e a sua força eram dignos de consideração muito antes do terrível incidente de que foi vítima. Ler este livro foi uma experiência emocionalmente pesada, mas totalmente necessária. Aprendi imenso, e penso nele e em muitas das suas palavras e considerações praticamente todos os dias. Uma leitura obrigatória sobre educação, religião, compaixão, Direitos Humanos e fraternidade. Resumindo, uma obra prima.
“Weather girl”, rachel lynn solomon

“It’s not easy,” he says, “to keep loving someone who’s given up on you”
Lançado no fim de janeiro de 2022, esta era uma das minhas comédias românticas mais antecipadas para este ano, e não desiludiu. Rachel Lynn Solomon, autora de “The Ex Talk” (recentemente editado em português com o título “Fala com o Ex”) e de “Today Tonight Tomorrow”, dois romances que li no ano passado, prometia com “Weather Girl” uma comédia romântica divertida mas com um sub-tom mais sério. Aqui conhecemos Ari, metereologista num canal televisivo de Seattle, e Russell, jornalista desportivo no mesmo canal. Começam o livro como amigos e, cansados de aturar as discussões ridículas dos seus chefes recém-divorciados, decidem formular um plano para que estes se re-apaixonem. O tom sério vem de eventos da vida pessoal de cada um dos protagonistas: Ari vive com depressão, medicada e controlada, mas constantemente preocupada em esconder os seus dias sombrios do mundo; Russell foi pai com apenas 17 anos, e é agora responsável por uma divertida pré-adolescente de 12 anos.
Reumo deste livro numa frase: simplesmente adorável, delicioso, e totalmente digno de ser lido de uma só vez. Com lenços e gelado por perto, como é característico do género.
“a man called ove”, Fredrik backman

“He was a man of black and white. And she was color. All the color he had”
“Ove had never been asked how he lived before he met her. But if anyone had asked him, he would have answered that he didn’t”
Pára tudo, vão imediatamente comparar este livro e buscar 5 a 7 caixas de lenços, limpem a agenda e peguem numa manta – mais um favorito do ano encontrado. Depois da incrível experiência de leitura de “Anxious People” (Em português, “Pessoas Ansiosas”), e conhecendo a reputação de “A Man Called Ove” (Em português, “Um Homem Chamado Ove”), as minhas expectativas estavam em alta. E, adivinhem o que lhes aconteceu? Foram superadas!
“A Man Called Ove” conta-nos a história de Ove, um homem rabugento, solitário e pacato, que só se mostrava verdadeiramente à mulher, a sua pessoa favorita no mundo. Na sua ausência, perde a vontade de viver, e começa à procura de maneiras de terminar a própria vida. Mas o universo, sob a forma de vizinhos curiosos e sem quaisquer noções de privacidade, está constantemente a estragar-lhe os planos.
Esta é uma narrativa comovente, cheia de humanidade, fraternidade, e sentido de presença; é um atestado de amor, de luto, de superação e de alegria. É daqueles livros capazes de fazer rir às gargalhadas e chorar aos oluços, e por vezes até os dois ao mesmo tempo. Confiem em mim: precisam de conhecer o Ove. E ele também precisa de vos conhecer.
“The roughest draft”, emily and austen

“I was close to having what I wanted, and if I had what I wanted I could lose it.”
À semelhança do segundo livro desta lista, “The Roughest Draft” era um dos meus romances mais antecipados do ano, e o primeiro que me desiludiu. Apesar de não conhecer os autores, fiquei fascinanda com a premissa – para além de ser um livro sobre livros (e sobre escritores), o método de escrita imita o descrito no livro.
Katrina e Nathan, amigos de longa data, escreveram e publicaram um bestseller que revolucionou a indústria literária. Depois do sucesso, deixam de se falar (muito mistério é criado em redor da razão para a zanga), e o contrato que prometia um novo livro fica por cumprir. Pressionados pelas circunstâncias a pôr as diferenças de lado e a escrver um último livro, aceitam re-encontrar-se na casa onde fizeram o seu mais prolífico retiro literário, e tentar repetir a fórmula do sucesso.
Dei a este livro 3 estrelas – não foi uma má experiência de leitura, mas está longe de ter sido memorável ou ao nível das expectativas que tinha. Para ser sincera, parecia genuinamente que estava a ler o rascunho de um livro ainda por editar. O livro tem dois autores, um casal de escritores que alternou na escrita dos capítulos, produzindo assim duas vozes muito distintas para as duas personagens, o que é certamente positivo. Ainda assim, e apesar de aplaudir a capacidade de criar tensão e momentos de antecipação, senti a narrativa arrastada e com mais buildup do que era necessário.
“sputnik sweetheart”, haruki murakami

“No matter how deep and fatal the loss, no matter how important the thing that’s stolen from us, (..) even if we are left completely changed people with only the outer layer of skin from before, we continue to play out our lives this way – in silence.”
*suspiro* quem me conhece sabe que adoro Murakami – digo frequentemente que é um dos meus autores favoritos, e sou (era?) assumidademente presidente do clube “dêm o Nobel a este homem, já!”. Por tudo isto ainda não aceitei bum uma realidade que não posso negar – não gostei deste livro.
Apesar de a prosa ser belíssima, ao estilo a que Murakami já nos habituou, senti que a narrativa e as personagens eram repetitivas e recicladas, demasiado semelhantes a “Norwegian Wood”, considerada uma das obras primas do autor. Para além disto, senti-me incomodada com algumas descrições da personagem principal, uma jovem mulher que sonha ser escritora mas não sabe bem como cumprir o seu objetivo.
Com a ressalva de que obviamente não li o livro na sua língua original (o japonês), existe sempre a hipótese de os comentários que me incomodaram terem sido produzidos pela tradução. Não obstante, apesar de ter gostado muito do narrador da história (algo que nem sempre me acontece com Murakami), a minha opinião geral foi negativa.
E assim chegamos ao fim de Fevereiro: espero que as leituras de Março sejam tão boas como as primeiras, e declaradamente melhores do que as duas últimas. A ver vamos!